ENTREVISTA

07-fev.2020

Anabela Botelho é Coordenadora do “Workpackage 4: Avaliação do impacto da inovação territorial”, do Programa “CeNTER – Redes e Comunidades para a Inovação Territorial”.

Licenciada (1992) em Economia pela Universidade do Porto, concluiu (1994) a parte curricular do Mestrado em Economia na mesma Faculdade, na área de especialização de Economia Regional e Desenvolvimento, e prestou Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica na Universidade do Minho, em 1994, com um trabalho sobre os fundamentos microeconómicos da inovação. Em 1998 concluiu o Doutoramento na Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos da América, nas áreas de especialização de Economia Industrial e de Métodos Microquantitativos. Iniciou a carreira docente na Universidade do Minho em 1992, passando, em períodos de licença sabática, pelas Universidades da Central Flórida, da Califórnia e do Arizona, nos EUA. Lecionou também em Timor Leste, no Instituto Eletrónico e de Radio-Engenharia de Moscovo e na Universidade Católica da Beira em Moçambique.

Eclética nos interesses de investigação, centra-se no uso da Teoria Microeconómica e no recurso às metodologias da Teoria dos Jogos, da Economia Experimental e da Econometria para analisar matérias que afetam sobretudo os setores da saúde, do ambiente e energia e da economia da educação e do trabalho.

Dos vários projetos de investigação em que esteve envolvida, destaca com particular entusiasmo aqueles que realizou durante as licenças sabáticas. Um primeiro, com o objetivo de averiguar em que medida o uso de normas de comportamento social é promotor de resultados económicos eficientes. Um segundo, consistiu na resolução analítica e avaliação experimental de uma solução estratégica para um contexto de apropriação de recursos naturais comuns, que evidenciou a necessidade reduzir a incerteza sobre a capacidade de regeneração dos recursos, como forma de estimular comportamentos de maior conservação.

Como se envolveu no Programa CeNTER?

Fui chamada a participar no projeto na sequência da nomeação da Professora Celeste Varum para a Secretaria de Estado da Indústria. A razão do convite prendeu-se também com os meus interesses de investigação e a minha formação no âmbito da economia regional e do desenvolvimento, e da economia da inovação.

E qual o balanço que faz?

Tem sido uma experiência muito interessante sobretudo pela oportunidade que tenho tido de conhecer colegas, professores e investigadores, de outros departamentos e com os mais diversos backgrounds de formação.

Que momentos destaca como mais relevantes desde o início do projeto, em abril de 2017?

Se tiver de selecionar um momento, seria o “2.º Seminário do CeNTER: Territórios e inovação – Discursos e práticas”, pelo conjunto de parceiros, investigadores e temas abordados, nomeadamente as diferentes perspetivas sobre o que são territórios inteligentes.

Considerando a sua área científica e o trabalho que tem vindo a desenvolver, qual é o principal contributo que o Programa CeNTER oferece à região Centro?

Olhando para a minha formação inicial sobre a teoria do desenvolvimento e do crescimento económico, e no que era a literatura económica sobre estas questões, quer a nível das nações quer a nível local, ou mesmo na literatura sobre a economia da inovação, julgo que é o reconhecimento de que efetivamente não existem receitas universais para a promoção da inovação e do consequente crescimento e desenvolvimento económico. Tal como eu defendia na altura, o sucesso dos sistemas de inovação está muito dependente das condições locais e dos recursos endógenos dos territórios havendo, portanto, a necessidade de os identificar, caracterizar e adaptar as políticas de inovação. Ou seja, não há receitas universais e o Programa CeNTER reconhece esta visão. É neste sentido que eu julgo que tem um forte potencial de contribuição para a região Centro.

Quais os principais desafios enquanto investigador do Programa CeNTER?

Os desafios de caracterização dos recursos endógenos são sempre desafios complicados, mas temos a literatura para nos ajudar. No que diz respeito à Coordenação, os desafios são os inerentes à coordenação de todos os projetos, nomeadamente o de assegurar que as vicissitudes que se vão encontrando, sobretudo no que diz respeito à disponibilidade e à estabilidade dos recursos humanos, não compromete o alcance dos objetivos dos projetos, uma vez que a sua duração, em geral, é sempre otimista e, portanto, não se compadece com este tipo de vicissitudes.

Quais são as suas expectativas a curto, médio e longo prazo, nomeadamente sobre os resultados a serem alcançados com o Programa CeNTER?

De momento, de acordo com o que tenho vindo a observar, não tenho razões para julgar que os objetivos não venham a ser alcançados. Estamos a preparar o prolongamento do Programa e, na generalidade, as várias etapas têm vindo a ser cumpridas ao nível de todos os Workapackages e no WP4 também.

O que há para lá do CeNTER, quer em termos profissionais, quer em termos pessoais?

Além do CeNTER, em termos pessoais e profissionais, há muitas coisas. Eu não sou uma pessoa ambiciosa, mas que se quisermos colocar as coisas nesses termos, diria que minha maior ambição profissional é continuar a servir a academia portuguesa, quer a nível institucional, quer da produção e transmissão de conhecimento relevante. É continuar a servir ao nível daquilo que eu julgo que é a nossa missão mais nobre, que é a transmissão de conhecimento ao mais alto nível e de forma eficaz às gerações mais jovens para que estas mais rapidamente possam acrescentar ao conhecimento existente e, por conseguinte, estarem em melhores condições de enfrentar os enormes desafios que se colocam, em termos ambientais, políticos e sociais, num contexto de mudanças aceleradas como o que estamos a viver atualmente e que as atuais e futuras gerações têm de estar preparadas para enfrentar.

A nível pessoal a minha ambição é e foi sempre a mesma, que é ter saúde física e força anímica e emocional para fazer o que tenho feito ao longo da vida e que continuo a fazer que é ajudar as pessoas, e dentro do que me é possível, com todas as formas que tenho, através dos meus conhecimentos académicos, das minhas capacidades intelectuais e emocionais, e de encontrar e manter bom humor [risos], etc., contribuir para o bem estar e felicidade das pessoas que me rodeiam.

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