ENTREVISTA
05-abr.2019
Fernando Ramos é Coordenador do “Workpackage 3: Redes e Mediação na Inovação Territorial” do Programa “CeNTER – Redes e Comunidades para a Inovação Territorial”.
Com uma formação inicial em Engenharia Electrónica e Telecomunicações, entrou na Universidade de Aveiro (UA), em 1982, como Assistente Estagiário do DET (atualmente DETI), onde se manteve até 1999, como Professor Associado desde 1998. Neste período concluiu o Doutoramento em Engenharia Electrotécnica/Sistemas de Telecomunicações (1992), integrou as unidades de investigação INESC e IEETA e foi Presidente do Conselho Diretivo daquele Departamento entre 1994 e 1999. Entretanto, em 1998 aceitou o desafio lançado pela reitoria do Prof. Júlio Pedrosa de liderar o CEMED-Centro de Multimédia e Ensino a Distância da UA, função que exerceu até à extinção do Centro em 2009.
No ano 2000, respondendo ao desafio colocado pelo então Reitor Prof. Júlio Pedrosa, iniciou funções como docente no DeCA, que continua a exercer. Em 2001 fez a agregação em Comunicação e Arte/Sistemas de Comunicação Multimédia e é Professor Catedrático desde 2003. Entre outros cargos de gestão no DeCA exerceu o de Presidente do Conselho Diretivo (2001-2005) e é, desde 2015, Coordenador Científico do DigiMedia-Centro de Investigação em Média Digitais e Interação.
Entre 2004 e 2014 exerceu, ainda, funções como Presidente da Comissão Executiva da UNAVE, tendo assegurado a presidência da Mesa da Assembleia Geral desta Associação entre 2014 e 2019.
Ao longo da sua carreira como investigador tem coordenado e participado em mais de 30 projectos de I&D, incluindo projectos nacionais (FCT, JNICT, FCGulbenkian, Portugal Telecom, PT Inovação, AlticeLabs, Telepac, TMN, CNEFF, Instituto Camões) e internacionais (EU-JRC, EU-EURET, EU-TRANSPORTS, EU-AIM, EU-RACE, EUROCONTROL, NATO, BAD).
Também os interesses de investigação se diversificaram ao longo dos anos. Embora focado no estudo do potencial dos sistemas de comunicação multimédia, os seus contextos de aplicação são tão distintos como telemedicina, controlo de tráfego aéreo, monitorização de incêndios florestais, e-Learning, Educação a Distância e, mais recentemente no âmbito do CeNTER, dinâmicas de inovação de base territorial.
Sendo a cooperação internacional para o desenvolvimento outra das dimensões que valoriza, tem, sobretudo desde 2005, coordenado programas de trabalho com organizações, em especial Universidades, de Angola, Cabo Verde, Moçambique e Timor-Leste.
Como se envolveu no Programa CeNTER?
Integro a equipa que pensou o CeNTER desde o primeiro dia, juntamente com os colegas do DeCA/DigiMedia Margarida Almeida e Luís Pedro. Esta equipa foi constituída, por iniciativa do Diretor do DeCA, Prof. Rui Raposo, como o contributo da área de Ciências e Tecnologias da Comunicação do DeCA para o desafio, colocado pela Reitoria em 2015, da criação de uma nova linha de investigação na UA no domínio das Ciências Sociais, Artes e Humanidades.
E qual o balanço que faz, em termos pessoais?
O balanço é extremamente positivo! É uma oportunidade única de promover a investigação em ambiente interdisciplinar, mobilizando saberes complementares de diversas áreas de conhecimento em que a UA tem créditos firmados. Para além dos desafios e das oportunidades no plano da investigação, o CeNTER tem-me também proporcionado a possibilidade de conhecimento e de interação com outros colegas, incluindo um grupo de muito talentosos jovens investigadores com quem tem sido um grande prazer privar e com quem tenho aprendido muito.
Que momentos destaca como mais relevantes desde o início do projeto, em abril de 2017?
O CeNTER tem tido diversos momentos relevantes, alguns dos quais relacionados com o envolvimento direto com pessoas que, no dia a dia, no terreno, são protagonistas dos processos de inovação de base territorial. Destaco, assim, os dois Seminários CeNTER, bem como os vários momentos de recolha de dados, através de entrevistas e de grupos focais, que realizámos no âmbito das atividades da WP3. Neste momento estamos, também, a passar por uma fase muito relevante, que é o fecho da identificação das funcionalidades que irão ser implementadas e validadas no protótipo da plataforma CeNTER.
Considerando a sua área científica e o trabalho que tem vindo a desenvolver, qual é o principal contributo que o Programa CeNTER oferece à região Centro?
O CeNTER é um programa de investigação com enorme potencial de contributo real para o desenvolvimento da região Centro, pois tem como principal objetivo aprofundar e disseminar conhecimento sobre as dinâmicas de inovação de base territorial, tendo como focos principais as áreas do Turismo e da Saúde e Bem-Estar. Para além do contributo genérico para a melhoria das condições de vida dos cidadãos e para o sucesso das atividades com relevância económica, o CeNTER pode dar contributos específicos muito importantes para amplificar o valor social, mas também económico, do património material e imaterial da região, bem como da importância das iniciativas de cidadãos, frequentemente de âmbito local e não orientadas para a criação de mais valias económicas, mas que são essenciais para a coesão e bem-estar sociais.
Quais os principais desafios enquanto investigador do Programa CeNTER?
O principal desafio, que é também uma enorme oportunidade, é a natureza interdisciplinar da investigação que realizamos no CeNTER. A necessidade de diálogo permanente entre áreas de conhecimento coloca questões muito interessantes, nomeadamente a necessidade de “calçarmos os sapatos do outro”, mas é uma fonte inesgotável de aprendizagem e de estímulo intelectual.
Quais são as suas expectativas a curto, médio e longo prazo, nomeadamente sobre os resultados a serem alcançados com o Programa CeNTER?
Falta cerca de um ano para o final do programa, ou melhor, desta primeira fase do CeNTER, pois considero que esta área de investigação tem “pano para mangas”. Neste próximo ano vamos, na WP3, estar totalmente concentrados na prototipagem e validação do protótipo laboratorial da plataforma CeNTER, em que vamos envolver, mais uma vez, agentes diretos das dinâmicas de inovação de base territorial da região Centro.
O que há para lá do CeNTER, quer em termos profissionais quer em termos pessoais?
Estou já na última década da minha vida profissional, mas tenho a ambição de ainda poder usufruir, com alguma qualidade, de mais algumas décadas de vida. A minha principal ambição profissional é mesmo contribuir para que se instale e consolide na UA um ambiente de trabalho interdisciplinar. Tenho tentado contribuir para este desiderato, nomeadamente desinquietando outros colegas para abraçarem desafios em que o cruzamento de saberes seja crucial para serem atingidos objectivos com relevância social e económica. Ao nível pessoal a minha principal ambição é poder, em boa harmonia familiar, continuar a fazer algumas viagens que me ajudem a saciar o desejo de conhecer o Mundo que sempre me acompanhou desde muito jovem.